quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

A BATALHA


No troar dos cascos, entre o tinir dos metais cruzando-se no choque da brutalidade... insana...

À frente vinha a cavalaria grosseira. Entre os urros de guerra e o tropel da correria e desatino, eu vi-te. Sabia que serias tu. Mas no furor, cego de insanidade, não tinhas percepção de nada. A imaturidade marcava-te como um estilete. Fatídico. Serias meu!

Acoitando-me na invisibilidade, usei a capa do alheamento para esconder-te o meu olhar; denunciaria-me. Enquanto te embriagavas na estúpida violência da batalha, eu espiava-te e estudava com deleite a tua nudez exposta. A tua fragilidade jovial. Como havia querido, posicionaste-te junto a mim, vulnerável, ao meu dispor. Eu, predador por natureza, assolapado, esperava o momento do bote. Pertencias-me, corcel tolo!

Todas as investidas dos teus correligionários, eu rechaçava com vigor, mas subtilmente. Dissimulado. Até que, quando me viste, já eu era um rugido golpeando-te com bestial vigor. Sucumbiste. Espanto no teu olhar desamparado. Eu saciava a monstruosidade do meu desejo.