Presença sem sombra.
Saiu como sempre. Silencioso,
fugidio, sem uma saudação ou sequer uma despedida. Dissimulado como uma
serpente. Dissimulado como todos os cínicos. É sempre tudo suspeito e duvidoso
a respeito dos seus movimentos ligeiros e comportamentos esquivos. Não é um
enigma, é uma fraude ambulante.
Nunca trocando olhares com
ninguém. Fala para baixo, como se as pedras o escutassem. Quase em surdina. Um
homem sem glória, um homem sem história. Um homem que se realiza no não
compromisso. Um cobarde.
Voga no seu minúsculo mundo de
referências, pré-estabelecidas pelos padrões que ouviu duma educação tacanha e
submissa, onde se refugia de qualquer empenho ou postura de carácter. Foge de
desafios e evita frontalidade, como um animal protegido pela carapaça dura e
impenetrável. Subjugação é o seu modo de esperar o momento de fuga.
Os movimentos são silenciosos e
esquivos, como uma sombra pulando de sombra em sombra.
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