sexta-feira, 14 de março de 2014

O SOMBRA



Presença sem sombra.

Saiu como sempre. Silencioso, fugidio, sem uma saudação ou sequer uma despedida. Dissimulado como uma serpente. Dissimulado como todos os cínicos. É sempre tudo suspeito e duvidoso a respeito dos seus movimentos ligeiros e comportamentos esquivos. Não é um enigma, é uma fraude ambulante.

Nunca trocando olhares com ninguém. Fala para baixo, como se as pedras o escutassem. Quase em surdina. Um homem sem glória, um homem sem história. Um homem que se realiza no não compromisso. Um cobarde.

Voga no seu minúsculo mundo de referências, pré-estabelecidas pelos padrões que ouviu duma educação tacanha e submissa, onde se refugia de qualquer empenho ou postura de carácter. Foge de desafios e evita frontalidade, como um animal protegido pela carapaça dura e impenetrável. Subjugação é o seu modo de esperar o momento de fuga.

Os movimentos são silenciosos e esquivos, como uma sombra pulando de sombra em sombra.

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